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quarta-feira, 4 de janeiro de 2012
os hackers manda no linux...
Já imaginou um software que, após duas décadas seguindo um mesmo sistema para
seus números de versão, simplesmente muda esse sistema?
Já imaginou um software que faça isso e seja patrocinado em grande parte
por megacorporações (e inúmeras outras corporações não tão grandes assim) que
dependem fundamentalmente dele?
Não é novidade a presença do kernel Linux nos produtos de vários
fabricantes do ramo da tecnologia, desde smartphones, impressoras e equipamentos
embarcados de uso industrial até servidores e mainframes. Quantos destes
fabricantes você imagina que tenham scripts para controlar seus próprios números
de versão de acordo com o tradicional esquema 2.6.z.w ? Eu
imagino que a resposta seja todos ; certamente, cada uma dessas
empresas possui alguns clones do repositório git central do kernel em seus
departamentos de desenvolvimento.
No
entanto, nosso pinguim foi da versão 2.6.39 para a 3.0. Não 3.0.0, mas apenas
3.0, arremessando para longe o padrão x.y.z.w , em que
x só mudaria em caso de arrebatamento e y só
seria ímpar em versões de desenvolvimento.
Um fabricante de sistemas operacionais de
cunho unicamente comercial, em sã consciência, jamais alteraria
de forma tão significativa o número de versão de seu produto principal sem
motivo para tal. Portanto, só podemos concluir que o Linux — ou, ao menos, seu
BDFL Linus
Torvalds — não cede a pressões comerciais. Ao considerar que " 2.6.40 é um
número muito alto" , o finlandês resolveu, de forma bastante autoritária,
mudar tudo a seu bel-prazer:
" Qual a graça de estar no comando se você não pode escolher [os
detalhes polêmicos] sem todo um referendo a respeito?"
A conclusão, para mim, aponta em uma direção muito interessante: os
hackers mandam no Linux. Não adianta tornar esse kernel livre um sucesso de
vendas em múltiplas áreas da tecnologia da informação, nem usá-lo como única
base para empresas com vendas de US$ 1 bilhão; os hackers ainda têm o
poder e o direito de alterá-lo conforme
julgarem mais adequado.
Todo software livre tem essa vantagem: como pode sofrer
forks à vontade, todos têm a liberdade de permanecer com o
projeto " original" ou de criar o seu próprio, caso lhes pareça melhor.
O grau de dependência de todas essas empresas
em relação à árvore central do kernel Linux é justamente o que as obriga a
tolerar esse grau de mudança nos planos. Da mesma forma que o Linux é um produto
conjunto de seus desenvolvedores e das empresas que os bancam, nenhuma dessas
empresas teria recursos para, sozinha, encarregar-se de todo o processo de
desenvolvimento. Quando uma empresa escreve um driver para Linux ou aloca
desenvolvedores para trabalharem em determinado recurso em benefício apenas da
própria empresa, ela automaticamente garante que qualquer outra companhia terá
acesso a esses mesmos recursos de software, ao mesmo tempo em que reduz seus
custos de manutenção de um kernel completo. É algo como " desenvolva um
driver, ganhe um kernel" . Altruísmo com base egoísta, no melhor estilo O gene egoísta .
Na realidade, neste momento o Google está pondo à prova a afirmação de
dependência do kernel " oficial" , pois sua árvore de desenvolvimento do
kernel do Android aparentemente consiste em um fork do Linux original. Contudo,
qualquer que seja o desenrolar desse processo — ou de qualquer outro fork —
certamente o kernel " oficial" permanecerá território dos hackers
dedicados e brilhantes que o tornaram um exemplo de sucesso de vendas, de uso,
de desenvolvimento e de colaboração.
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